29 de outubro de 2024 . Blog
Usar Fone de Ouvido pode me deixar surdo?
Com o crescimento do uso de dispositivos eletrônicos entre jovens e adolescentes, o uso prolongado de fones de ouvido se tornou uma prática comum, mas pouco se discute sobre os efeitos a longo prazo na saúde auditiva. Usar
Jornalista: Dr. Fausto, os fones de ouvido se tornaram praticamente uma extensão do corpo dos jovens hoje em dia. O uso frequente pode realmente trazer riscos para a audição?
Dr. Fausto Nakandakari: Sim, sem dúvida. O uso prolongado e em volume alto dos fones de ouvido tem se mostrado um fator de risco significativo para a perda auditiva precoce. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60% dos casos de perda auditiva no mundo poderiam ser evitados. Isso inclui, em grande parte, os danos causados pela exposição a sons em volumes excessivos. Um estudo recente da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, aponta que mais de um bilhão de jovens estão em risco de desenvolver perda auditiva devido a esses hábitos.
Jornalista: Esse é um número alarmante. E como isso ocorre na prática? De que maneira o som alto pode prejudicar nossa audição?
Dr. Fausto Nakandakari: A exposição prolongada a sons intensos provoca um desgaste progressivo das células ciliadas da cóclea, a estrutura do ouvido interno responsável por converter as ondas sonoras em sinais elétricos interpretados pelo cérebro. Estas células não se regeneram, ou seja, uma vez danificadas, o prejuízo é irreversível. A intensidade e a duração do som determinam o nível de risco; por exemplo, sons acima de 85 decibéis já são considerados nocivos se a exposição ultrapassar oito horas por dia. E isso é fácil de alcançar com fones, especialmente se os jovens aumentam o volume para mascarar o barulho externo.
Jornalista: Inclusive, há estudos recentes que relatam números preocupantes. No Brasil, por exemplo, a UNIFESP conduziu uma pesquisa com crianças e adolescentes. Quais foram as conclusões principais desse estudo?
Dr. Fausto Nakandakari: A UNIFESP realmente trouxe dados importantes à discussão. Em um estudo recente, eles analisaram 249 crianças e adolescentes de uma escola pública em São Paulo, e os números não são bons. Os jovens, principalmente entre os 10 e 17 anos, tendem a ouvir música e ver vídeos em volumes mais altos do que o recomendado. Entre as meninas, 28% ultrapassam o volume seguro, enquanto esse índice sobe para 35,8% entre os meninos. Esse comportamento, em médio e longo prazo, pode acelerar o processo de perda auditiva.
Jornalista: Isso me faz lembrar de um estudo em Rotterdam, que apontou que uma em cada sete crianças já apresenta perda auditiva. Seria esse o reflexo dos nossos tempos?
Dr. Fausto Nakandakari: Exatamente. Estudos internacionais vêm mostrando que a perda auditiva está se tornando uma questão de saúde pública. No caso das crianças e adolescentes, que ainda estão em fase de desenvolvimento, o dano pode ser ainda mais grave, pois a exposição precoce compromete a audição na fase adulta e pode impactar o desenvolvimento cognitivo e até social. Além disso, pesquisas como as publicadas na revista The Lancet indicam que a perda auditiva não tratada pode estar associada ao desenvolvimento de demência na velhice. Portanto, o cuidado com a saúde auditiva deve começar cedo.
Jornalista: Com tantas evidências, quais seriam os principais sinais de que alguém pode estar começando a sofrer perda auditiva?
Dr. Fausto Nakandakari: Os sinais iniciais podem variar, mas é comum que as pessoas comecem a notar dificuldade em compreender palavras, principalmente em ambientes ruidosos. Chiados ou zumbidos constantes, tontura e até sensação de pressão nos ouvidos também podem surgir. Esses sintomas indicam que o sistema auditivo está sob sobrecarga. É importante que, ao notar qualquer um desses sinais, a pessoa busque uma avaliação com um especialista para evitar que o quadro se agrave.
Jornalista: Qual seria, então, a orientação para jovens e adolescentes? Como eles podem usar fones de ouvido de maneira mais segura?
Dr. Fausto Nakandakari: Primeiramente, é fundamental manter o volume do som em um nível seguro. Em geral, 60% do volume máximo já é suficiente para ouvir com clareza sem causar danos. Além disso, a duração é importante: o ideal é não ultrapassar uma hora de uso contínuo. Recomendo também optar por fones de ouvido que bloqueiem ruídos externos. Assim, não é preciso aumentar o volume para mascarar o som ambiente. No caso de crianças, é prudente que os pais supervisionem o tempo e o volume de uso dos fones.
Jornalista: E para aqueles que já notaram algum sinal de perda auditiva, há algo que possa ser feito?
Dr. Fausto Nakandakari: Sim, existem tratamentos e recursos, como aparelhos auditivos, que podem ajudar a minimizar os impactos da perda auditiva, mas eles não recuperam o que foi perdido. Por isso, a prevenção é sempre o melhor caminho. Além disso, a reabilitação auditiva e o acompanhamento médico contínuo são essenciais para preservar ao máximo a audição residual e garantir qualidade de vida.
Jornalista: Diante desse cenário, o senhor acredita que a educação sobre os riscos do uso de fones de ouvido deve começar cedo?
Dr. Fausto Nakandakari: Sem dúvida. Informar crianças e adolescentes sobre os riscos de práticas como ouvir música em volumes elevados é fundamental. A escola e a família desempenham um papel essencial nesse sentido, incentivando hábitos saudáveis de uso da tecnologia. A conscientização deve ser uma das nossas principais armas na prevenção da perda auditiva.
Com o avanço da tecnologia, os fones de ouvido passaram de uma ferramenta opcional para um item quase essencial na vida moderna, especialmente entre os jovens. No entanto, conforme explicado pelo otorrino, a perda auditiva precoce causada pelo uso inadequado e prolongado desses dispositivos é uma realidade que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, com graves implicações para a saúde mental e qualidade de vida a longo prazo.
A conscientização sobre a saúde auditiva deve ser parte das conversas familiares e educacionais, com a inclusão de orientações práticas de uso e limites seguros. Para os pais, fica o desafio de monitorar o uso dos fones pelos filhos e garantir que, desde cedo, compreendam os riscos de manter o volume alto e prolongado. No ambiente escolar, campanhas educativas podem sensibilizar e informar jovens sobre o impacto desse hábito aparentemente inofensivo, mas altamente perigoso.
Investir na prevenção é essencial, principalmente quando sabemos que uma perda auditiva evitável representa não apenas uma limitação física, mas também o aumento do risco de problemas cognitivos e sociais. Assim como a visão ou a postura, a audição é um sentido que deve ser cuidado, protegido e preservado.
Fone de Ouvido pode me deixar surdo
? Para falar sobre isso, entrevistamos o Dr. Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista particular, que traz uma visão profissional sobre o tema.Jornalista: Dr. Fausto, os fones de ouvido se tornaram praticamente uma extensão do corpo dos jovens hoje em dia. O uso frequente pode realmente trazer riscos para a audição?
Dr. Fausto Nakandakari: Sim, sem dúvida. O uso prolongado e em volume alto dos fones de ouvido tem se mostrado um fator de risco significativo para a perda auditiva precoce. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60% dos casos de perda auditiva no mundo poderiam ser evitados. Isso inclui, em grande parte, os danos causados pela exposição a sons em volumes excessivos. Um estudo recente da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, aponta que mais de um bilhão de jovens estão em risco de desenvolver perda auditiva devido a esses hábitos.
Jornalista: Esse é um número alarmante. E como isso ocorre na prática? De que maneira o som alto pode prejudicar nossa audição?
Dr. Fausto Nakandakari: A exposição prolongada a sons intensos provoca um desgaste progressivo das células ciliadas da cóclea, a estrutura do ouvido interno responsável por converter as ondas sonoras em sinais elétricos interpretados pelo cérebro. Estas células não se regeneram, ou seja, uma vez danificadas, o prejuízo é irreversível. A intensidade e a duração do som determinam o nível de risco; por exemplo, sons acima de 85 decibéis já são considerados nocivos se a exposição ultrapassar oito horas por dia. E isso é fácil de alcançar com fones, especialmente se os jovens aumentam o volume para mascarar o barulho externo.
Jornalista: Inclusive, há estudos recentes que relatam números preocupantes. No Brasil, por exemplo, a UNIFESP conduziu uma pesquisa com crianças e adolescentes. Quais foram as conclusões principais desse estudo?
Dr. Fausto Nakandakari: A UNIFESP realmente trouxe dados importantes à discussão. Em um estudo recente, eles analisaram 249 crianças e adolescentes de uma escola pública em São Paulo, e os números não são bons. Os jovens, principalmente entre os 10 e 17 anos, tendem a ouvir música e ver vídeos em volumes mais altos do que o recomendado. Entre as meninas, 28% ultrapassam o volume seguro, enquanto esse índice sobe para 35,8% entre os meninos. Esse comportamento, em médio e longo prazo, pode acelerar o processo de perda auditiva.
Jornalista: Isso me faz lembrar de um estudo em Rotterdam, que apontou que uma em cada sete crianças já apresenta perda auditiva. Seria esse o reflexo dos nossos tempos?
Dr. Fausto Nakandakari: Exatamente. Estudos internacionais vêm mostrando que a perda auditiva está se tornando uma questão de saúde pública. No caso das crianças e adolescentes, que ainda estão em fase de desenvolvimento, o dano pode ser ainda mais grave, pois a exposição precoce compromete a audição na fase adulta e pode impactar o desenvolvimento cognitivo e até social. Além disso, pesquisas como as publicadas na revista The Lancet indicam que a perda auditiva não tratada pode estar associada ao desenvolvimento de demência na velhice. Portanto, o cuidado com a saúde auditiva deve começar cedo.
Jornalista: Com tantas evidências, quais seriam os principais sinais de que alguém pode estar começando a sofrer perda auditiva?
Dr. Fausto Nakandakari: Os sinais iniciais podem variar, mas é comum que as pessoas comecem a notar dificuldade em compreender palavras, principalmente em ambientes ruidosos. Chiados ou zumbidos constantes, tontura e até sensação de pressão nos ouvidos também podem surgir. Esses sintomas indicam que o sistema auditivo está sob sobrecarga. É importante que, ao notar qualquer um desses sinais, a pessoa busque uma avaliação com um especialista para evitar que o quadro se agrave.
Jornalista: Qual seria, então, a orientação para jovens e adolescentes? Como eles podem usar fones de ouvido de maneira mais segura?
Dr. Fausto Nakandakari: Primeiramente, é fundamental manter o volume do som em um nível seguro. Em geral, 60% do volume máximo já é suficiente para ouvir com clareza sem causar danos. Além disso, a duração é importante: o ideal é não ultrapassar uma hora de uso contínuo. Recomendo também optar por fones de ouvido que bloqueiem ruídos externos. Assim, não é preciso aumentar o volume para mascarar o som ambiente. No caso de crianças, é prudente que os pais supervisionem o tempo e o volume de uso dos fones.
Jornalista: E para aqueles que já notaram algum sinal de perda auditiva, há algo que possa ser feito?
Dr. Fausto Nakandakari: Sim, existem tratamentos e recursos, como aparelhos auditivos, que podem ajudar a minimizar os impactos da perda auditiva, mas eles não recuperam o que foi perdido. Por isso, a prevenção é sempre o melhor caminho. Além disso, a reabilitação auditiva e o acompanhamento médico contínuo são essenciais para preservar ao máximo a audição residual e garantir qualidade de vida.
Jornalista: Diante desse cenário, o senhor acredita que a educação sobre os riscos do uso de fones de ouvido deve começar cedo?
Dr. Fausto Nakandakari: Sem dúvida. Informar crianças e adolescentes sobre os riscos de práticas como ouvir música em volumes elevados é fundamental. A escola e a família desempenham um papel essencial nesse sentido, incentivando hábitos saudáveis de uso da tecnologia. A conscientização deve ser uma das nossas principais armas na prevenção da perda auditiva.
Com o avanço da tecnologia, os fones de ouvido passaram de uma ferramenta opcional para um item quase essencial na vida moderna, especialmente entre os jovens. No entanto, conforme explicado pelo otorrino, a perda auditiva precoce causada pelo uso inadequado e prolongado desses dispositivos é uma realidade que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, com graves implicações para a saúde mental e qualidade de vida a longo prazo.
A conscientização sobre a saúde auditiva deve ser parte das conversas familiares e educacionais, com a inclusão de orientações práticas de uso e limites seguros. Para os pais, fica o desafio de monitorar o uso dos fones pelos filhos e garantir que, desde cedo, compreendam os riscos de manter o volume alto e prolongado. No ambiente escolar, campanhas educativas podem sensibilizar e informar jovens sobre o impacto desse hábito aparentemente inofensivo, mas altamente perigoso.
Investir na prevenção é essencial, principalmente quando sabemos que uma perda auditiva evitável representa não apenas uma limitação física, mas também o aumento do risco de problemas cognitivos e sociais. Assim como a visão ou a postura, a audição é um sentido que deve ser cuidado, protegido e preservado.